Reflexões com Padre Jardel Moreira

O exercício da fé (Lc 17, 5-10)

 

A reflexão que nos chega nessa semana tem consigo algumas interpelações. A fé que concluiu o mês de setembro é a mesma que abre o mês de outubro. Só que nessa segunda situação, há um convite pra ir mais além do que se tem como texto. Olhando o evangelho, por exemplo, os apóstolos pedem a Jesus que lhes aumente a fé. Começamos a pensar: mas já sendo apóstolos viram tantas demonstrações de sinais, milagres e graças na vida de tanta gente; não seria isso suficiente pra que tivessem uma fé sólida? Ou será que estavam totalmente por fora do que seria Jesus para eles mesmos?

 

Na perspectiva de querer entender melhor poderíamos, primeiramente dizer, a fé não é quantitativa, ou melhor, dada em números. O pedido dos apóstolos não seria algo que clareasse ou os tornasse mais abertos a esse dom, a fé? A resposta de Jesus já traduz bem isso: “se tivésseis uma fé do tamanho de um grão de mostarda, poderíeis dizer a esta amoreira: arranca-te daqui e planta-te no mar e ela obedeceria”. E então como entender essa resposta? Acredito que faltou vivência da fé. Quantos momentos nós vivemos e passamos, mas até parece que nada nos acrescenta a mais. Como se fosse uma fé adormecida que só acorda quando somos tocamos ou surpreendidos por uma fase ou momento de dureza, decepções ou sofrimentos.

 

Para que não fique tão amplo e vaga a compreensão, vejamos como o profeta Habacuc se dirigiu a Deus: “Senhor, até quando clamarei, sem me atenderes? Até quando devo gritar a Ti: `violência`! sem me socorreres?... (Hab 1, 2; 2, 2-4). Olhando, imaginamos que o profeta se comporta como alguém descrente que já desiste e perde a esperança. Bem parecido conosco nos nossos momentos de clamor e experiência individuais, típicos desse tempo contemporâneo cheio de imediatismos e ansiedades. Mas pelo diálogo de Deus há entendimento e o professa entende o que Deus deseja dele.

 

E como vivenciar então a fé? Vejamos o que Paulo diz a Timóteo: “Caríssimo, exorto-te a reavivar a chama do dom de Deus que recebeste pela imposição das minhas mãos” (2 Tm 1, 6-8. 13-14). Precisamos tomar consciência dos dons que recebemos de Deus. A fé é um dom preciosíssimo para uma relação de intimidade com o Pai. Não somos justificados por uma fé abstrata, mas acima de tudo por uma fé de edificação, de obras e fiel. Que exercitemos e reavivemos cada vez mais convictos a fé professada em nosso Senhor.

 

Deus nos envolva com sua divindade!

 

Padre Jardel Moreira

 

A RIQUEZA QUE CARECE DA POBREZA (Lc 16, 19-31)

 

O episódio narrado pelo evangelho de Domingo traz uma maneira típica de constatar as realidades presentes na nossa atualidade. De um lado, temos Lázaro com descrições do tipo: pobre, faminto e cheio de feridas. E de um outro, um homem rico, com roupas vistosas e de grandes festanças fartas.

Não é por acaso que a Palavra apresenta tal situação. Os apelos e clamores de Lázaro nem surtem tanta força em receber aquilo que lhe falta. De viver num modo infeliz e sobreviver com saúde fragilizada o mesmo não se cansava. Buscava na cura das feridas dos outros o benefício das suas. E ainda era de se notar que quem tinha esse perfil sofria as discriminações de todos.

O que falar do homem rico? Este vivia numa vida muito cômoda e independente. Necessidade era a palavra mais em desuso, pois detinha o que mais o fazia satisfeito. Assim, vemos um tipo de vida que seria fechado a quem vivia no oposto, como vimos em relação a Lázaro. E até fazer pensar e concordar como a famosa expressão “com o rei na barriga”. Não dar pra ver nada além dessa vida, com seus exageros e ofensas aos mais empobrecidos.

A intenção que o texto propõe recai sobre a disparidade que há de maneira gritante nas nossas relações como cristãos: ricos e pobres. Como podemos viver tão tranquilos se nosso vizinho ou alguém que está mais longe sofre pelo que lhe é tão básico: teto e alimentação? E se só fosse isso seria ainda fácil de suprir! São tantos os que sofrem e suplicam mas poucos são ouvidos.

Devemos fazer grande esforço para não vivermos apenas numa ótica e vida meramente material. E vale lembrar: o rico teve tudo aqui nesta vida, porém não ganhou o céu. Já Lázaro, que não tinha nada na vida terrestre recebeu o céu. Despertemos a nossa sensibilidade com os pobres e sejamos mais atentos aos modos de acolher o jeito como Jesus se reveste e nos atesta sobre nossa identificação com ele.

 

Deus vos abençoe sempre!

 

Padre Jardel Moreira

01/10/13

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SER HUMILDE

 

A humildade foi a palavra – chave de reflexão do fim de semana. Tomando como base o evangelho de Lucas 14,1. 7-14. Vendo o ambiente de Jesus, imaginamos como deve ter sido sua expressão. Talvez, de espanto ou contrariado! Mas o fato de o mesmo, apresentar aos demais personagens a atitude de reserva sob as maneiras de exibir-se ou deixar-se notar, traduzem sim o que, realmente, o fez contar a parábola da festa de casamento: “Porque quem se eleva, será humilhado e quem se humilha, será elevado” (Lc 14, 11).

 

A palavra humildade vem de húmus, que significa solo, chão. A qualidade dos procuram se manter no nível dos outros. Ao que vemos, não constitui uma tarefa tão fácil. O princípio da humildade abre a todos as portas para percebermos –nos como pessoas que somos, a vislumbrar os nossos limites e anseios. Quem se reveste da humildade, vive pelo amor o que construiu na sua história, fortalece a própria identidade e o que somos diante de Deus, seus filhos e filhas.

 

Nenhuma atitude de imposição ou “luta de braço”, numa ótica de medir forças, nos aproxima do Senhor. Precisamos estar conscientes da nossa tarefa na conquista do reino de Deus. No mundo competitivo e moderno, somos desafiados e confrontados pelo jogo dos interesses numa visão e vivência muito utilitarista e egocêntrica. Em Jesus, tudo isso estar na contra-mão. A opção mais feliz é aquela de quem deseja servir acima de tudo aos outros. Isso, porque Cristo foi obediente e obediente à morte de cruz. Sejamos humildes para tornar o ideal cristão, tão necessário, na vida de todos nós!

 

Deus nós abençoe!

 

Padre Jardel Moreira

 

02/09/13

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RENÚNCIA E DESAPEGO PRA SER DISCÍPULO

 

Na trajetória de vida encontramos diversos momentos e situações que vem de encontro com o nosso ser cristão. Nem sempre tomamos as melhores decisões e isto se torna um desafio rumo ao discipulado de Jesus. A palavra proclamada na liturgia deste domingo, dia 08/09/13, nos interpela muito no que se refere a renuncia e ao desapego.

 

Ao desapego fica claro entender sujeitar ou subordinar-se, ou ainda depender de algo, de maneira material. No evangelho de Lc 14, 25-33, vemos Jesus associar o desapego à pessoas e a ideia é dizer que não podemos viver apenas em função de laços humanos, mas acima de tudo, estreitar nossa relação com Deus. E também, temos os apegos dos bens materiais e até no ambiente sagrado nas atitudes farisaicas.

 

A renúncia nem sempre é tão fácil de ser aceita e assumida, pois implica esforço dobrado aos que estão no caminho de fidelidade a Cristo. Por que renunciar? Porque na vida, dentro de sua diversidade, não encontramos só situações agradáveis e aí entende-se que no dinamismo dos altos e baixos de conviver uns com os outros, precisamos discernir pra decidir o que mais nos impulsiona para fazer a vontade de Deus. E renunciar, principalmente, o que é vão e vicio!

 

O desapego e a renuncia completam o discípulo. Este precisa no ser aprendiz, olhar o mestre Jesus, que com sua pedagogia de amor transmite sua missão de transformação. Que esta indicação e meditação nos incentivem ao enamorarmos com o Senhor que sempre nos acolhe. Graça e paz a todos!

 

Padre Jardel Moreira

09/09/13

 

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MÃE DAS DORES

 

A comunhão que vivemos pela Solenidade de Nossa Senhora das Dores, traduz os sentimentos mais lindos do coração de nossa igreja local. Basta olharmos a expressão do título que não conota apenas o lado doloroso como se apresenta. E então, por que um título que exprime tanta tristeza, principalmente, vendo a imagem de Nossa Senhora?  Celebramos a compaixão e a piedade, suas sete dores: Simeão, que profetiza; a fuga para o Egito; a perda do menino Jesus; a paixão, crucificação, morte e sepultura de Jesus Cristo.

 

O que temos que perceber nesta solenidade é que não recordamos, como igreja, as dores de Nossa Senhora somente pelo sacrifício em si, porque também, pelas dores oferecidas, a Santíssima Virgem participou ativamente da redenção de Cristo. Assim, há mais alegria pela glória da ressurreição e oblação do que pelos sofrimentos notáveis.

 

Maria sempre esteve presente na vida de Cristo em todos os momentos considerados essenciais na história da salvação. Nisto, ninguém melhor do que ela pra nos ensinar a origem e fundamentação dos mistérios do Salvador. A experiência que nossa Mãe viveu ao lado de seu Filho desde o nascimento, pela ação do Espírito Santo, até a configuração da Igreja pós-ressurreição nos atesta as suas funções de mãe e intercessora.

 

Contudo, em Maria depositamos nossos sofrimentos e dores, pois ela recolhe e acolhe a todos dentro de suas fragilidades, como uma mãe que guarda todas as angústias de seus filhos. É importante e bastante edificante termos confiança e segurança na livre adesão à Nossa Senhora. Não abandonemos e nem desistamos de viver a partir do capital de graças, que de maneira privilegiada, a mesma recebeu das mãos do Criador.

 

Que a Mãe das Dores nos cubra com seu manto rico da misericórdia de Deus!

 

Deus abençoe a todos!

Padre Jardel Moreira

20/09/13

 

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ADMINISTRAR BEM É IMITAR JESUS - LC 16, 1-13

 

Quando ouvimos alguém falar em Administrar algo, pensamos logo na incumbência que se tem ou que irá assumir pela frente. A Palavra de Deus fez boas indicações e alertou, também, sobre os riscos que um administrador tem em sua estadia de trabalho ou em cuidar da própria vida, maior bem. Ora, como gerir função para benefício de todos e, ora, apenas no suprimento de necessidades pessoais.

Quem ler o texto do Evangelho logo fica com interrogações a si mesmo sobre como Jesus pode abordar uma situação como essa. Pois bem, o administrador usou de má fé e desvio de finalidade aquilo que deveria na íntegra ser apresentado ao seu patrão na totalidade. Lamentavelmente, coagiu outros que estavam subordinados para que alterassem seus reais valores (débitos com patrão). Tudo isso, porque na condição de administrador desejava antecipar como seria seu itinerário, posteriormente, quando já estivesse fora da função, sabia que a sua demissão chegaria, e não ia demorar muito. Jesus condena todo tipo de ganância ou enriquecimento ilícito (a qualquer custo).

No contexto atual, assistimos grandes provas de quem vive em torno do capital, dos bens e condutas de desvios nas gestões públicas. Há uma preocupação em querer reunir um número elevado de coisas pra si. Seria como se uma vida pra for agradável teria quer acompanhar todos os seguimentos modernos. Até parece que Jesus nasceu em palácio! Vejamos o tipo de vida que Jesus teve. Dar prazer imitar e seguir!

O exemplo de Jesus contagia a todos! Teve poderes e realizou muitas maravilhas, mas preferiu que não O pusessem em andor ou O confundissem como revolucionário ou político! Quem não honra e vive na sua dignidade não entende a importância da própria filiação diante do Pai. Outra situação que se destaca nesta reflexão, refere-se ao respeito e valorização aos pobres. Estes são discriminados pelos modelos inacessíveis de poder e, em algumas situações até pelos governantes, que deveriam cuidar sempre mais dos mesmos. Vale acerca de tudo isso o nosso clamor: louvai o Senhor, que eleva os pobres! (Salmo 122/113).

 

Que nos enriqueça com a sua pobreza!

Padre Jardel Moreira

24/09/13

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